I EXPEDIÇÃO LANDLOUSÃ/FLR MARROCOS 2007-09-17O MEU RELATO Bem, depois de um período de repouso, de um alinhavar de ideias e de fazer uma retrospectiva da Expedição, vou compartilhar convosco todas as emoções, experiências e vivências.Então, foi assim…Desde há alguns anos que um grupo de amigos que se conheceu no Fórum Land Rover (FLR) tem o privilegio de passar o fim-de-ano em conjunto; na passagem de Ano de 2006/2007, em minha casa na Lousã, acordámos fazer uma expedição a Marrocos em finais de Agosto/Setembro.Meti mão a obra: foram 9 meses intensos de preparação, com a aquisição de livros, mapas, consultas de sites, de páginas pessoais… sei lá, tentar apanhar tudo que pudesse assegurar uma Expedição em segurança. Numa fase inicial, ficou acordado que o máximo de Lands seria de 6, o que foi evoluindo, pela calada, para 8, depois para 10… chegando aos 14, no maior dos segredos. Por fim, eram 12 Lands e 28 pessoas – diga-se que era obra.Posso dizer, agora, que existia uma preocupação fundamental da minha parte em assegurar o bem-estar, a segurança e sobretudo a amizade do grupo.Mas avancemos para aquilo que mais nos interessa: a Expedição. Dia 30 de AgostoDepois de uma noite esgotante a concluir um trabalho da minha área profissional, para ser entregue em Gaia, lá arrumei as coisas no Defender, 60-39-SA – que de agora em diante de designará por “SAVIMBI”. Pelas 10H00, parti com a companheira de sempre em direcção a Elvas, numa viagem calma e propícia a descarregar as baterias do stresse profissional.Chegados a Elvas, eu e o André Bela fomos ao hotel deixar as bagagens e fomos para Badajoz fazer umas compras de última hora (sumos, águas, pão e outras bebidas) sempre ansiosos pelo dia 1 de Setembro – o dia D, do início da Expedição.No entanto, eis que as 19H00 rebenta a bomba: o disco do Chico Lopes está em Condeixa com uma avaria e o pessoal está a retirar a caixa de velocidades e transferência, para resolver um problema que poderia ser mais ou menos complicado. Com a experiência e o saber do Pedro Bastos, e a preciosa ajuda do Vasco Lima e do Luís Silva, foi possível pôr o Eiffel a andar. Chegaram a Elvas quase à hora da saída. Dia 31 de AgostoComo previsto, às 8H00 estávamos prontos e nervosos para a partida, com a desvantagem de já serem 9H00 em Espanha e o Ferry partir às 15.30 horas.O pessoal teve a consciência disso, deu “corda aos sapatos” e sem sobressaltos entrou em Algeciras a tempo de levantar os bilhetes, e cambiar euros por dirhans.Foi nessa altura que tive o primeiro susto, que fui assimilando com alguma apreensão, porque ouvia um “tac-tac” quando andava em velocidade reduzida. Numa das paragens, perguntei ao Pedro Bastos se seria uma cruzeta, um rolamento, mas nada. O que interessava mesmo era pôr o “Savimbi” a bordo e depois, do lado de lá, se veria. Ao sair do Ferry, o barulho aumentou assustadoramente, pelo que o pessoal do porto de Ceuta ouvia tal tac-tac. Como fui o último a sair do Ferry, ao encaminhar-me para a cabeça da Expedição e ao passar pelo pessoal do FLR, vi que o Luís Silva e o Vasco ficaram apreensivos e vieram de imediato ver o que se passava. Com Vasco debaixo do “Savimbi” e Silva a ver os rolamentos das rodas, eis que a solução se tornara muito fácil: as rodas de trás tinham as porcas desapertadas. Uma nabice do tipo que me tinha montado a suspensão, que não verificou o reaperto das rodas.Apareceu logo uma chave de rodas: o “Savimbi” estava como novo e eu mais confiante.O pessoal atestou os Lands, retirou as antenas de CBs e depois de uma pequena refeição a saída de Ceuta, seguimos para a maior aventura da Expedição: a passagem da fronteira de Espanha para Marrocos, em hora de ponta… em final de mês.Quando os gendarmes marroquinos viram a caravana de 12 Lands à entrada do corredor, vieram de imediato ter com o pessoal. Depois de uma troca de informações, segui com 28 passaportes e 56 guias para o guichet de fronteira. Aí, fecha-se o guichet, e começa o “bailinho” com os três gendarmes. Foi difícil. O Chefe, intimista, carimba uns passaportes e guias, guardando os restantes na numa gaveta. Começa o jogo psicológico, demolidor. Eu tento jogar rasteiro e avanço com uma “de não os entender”. O Chefe arrisca e pergunta se sou ”militar”, ao que respondo que “não” e o ambiente começa a desanuviar. Ele diz para os outros, “o tipo é verde, vê-se”.Nessa altura, entro em descarga acelerada de toxinas, saio da cabine, venho à rua, e saco da carteira e simpaticamente entrego uma “gratificação” ao Chefe, pelo rápido desenrolar do processo. De imediato saltam os restantes passaportes, os gendarmes desejam boa estadia em Marrocos, e o Chefe dá-me as indicações seguintes para os outros guichets e uma palmada nas costas, com graça diz-me “és verde nestas andanças”. Ri, agradeci, e avancei para o pessoal que, preocupado, aguardava pelo meu regresso. Posso dizer que quando cheguei ao pé deles não suportava o meu odor. Consequências naturais de um nervosismo nada habitual.Bem… com os passaportes carimbados, o pessoal avançou, cada um por si, para a alfândega, para fazer as declarações de carga e tratar da “importação temporária do veículo”, outro stress, mas não tão massacrante. Um a um, lá fomos entrando em Marrocos, tomando a 1ª rotunda para seguir para Asilah.Depois de um longa espera eis que o Portelo passa na rotunda a abrir e segue em direcção a Tetouan. “Ganda nóia”! O Zé Pedro arranca disparado à procura de Portelo, que (qual CB ligado…) não atende as chamadas do pessoal. Passado um bocado, aparecem todos e toca a basar o mais rápido possível para a estrada.A estrada entre Sebta e Tânger está em obras porque em 2012, Tânger será a Capital da Cultura. Ainda não refeito do susto da fronteira, começam as “Operações STOP”, e os Petit Táxis, suicidas, mas há que avançar, de forma firme. Peço ao Luís Filipe para ser os meus olhos, por motivos óbvios, para quem me conhece.Queríamos mesmo era chegar a Asilah, depois de atravessar Tânger, em hora de ponta, e após o Lima ter sido mandado parar pela polícia por ter passado um vermelho. Suspense na caravana, mas o polícia entendeu as frases do Lima, “Expedição”, “Expedicion” e lá se safou.A saída de Tânger, Vieira arrisca a auto-estrada. Decisão sábia e barata. Foi um descanso até chegarmos ao Hotel Al Kaima, cansados, revoltados e apreensivos com o primeiro dia.Arrumámos as tralhas e fomos jantar. Peixe frito com esparguete, e melancia para rematar. O pessoal do Hotel era muito simpático.Para mim, a noite foi longa. Dia 1 de SetembroDe manhã cedo, e com o pessoal mais risonho, tivemos uma ligeira pane. O Silva deixou o refrigerador ligado e a bateria baqueou, nada que o pessoal não resolvesse na boa.Pedi ao Bela para ir à frente e, qual navegador mais experiente cumprindo o track, aí estávamos nós no meio da zona antiga de Larache a curtir o bairro de pescadores e o mercado. Nem o Kankura faria melhor. O Bela (Belinha para os amigos), com o JT (“JUSTINO”), levou-nos até Voulubilis, antiga cidade romana, próximo de Meknés. Trajecto feito em passo acelerado, porque na semana anterior, um bombista suicida se tinha atirado contra um autocarro de turistas. Encorajador.Entramos na zona do Médio Atlas, em Azrou. Cidade moderna e limpa – um local onde tenho de voltar e ficar no Hotel Panorama.De Azrou rumamos para a Floresta dos Cedros, uma zona muto bonita a cerca de 2200 mts de altitude. Fomos a zonas dos macacos, onde o pessoal se divertiu à brava e tirou muitas fotos, antes de partirmos rapidamente para Midelt. Parti à frente, por uma estrada rápida, a uma velocidade alta. Eis que no horizonte se avizinham fortes relâmpagos, seguidos de chuva intensa. Reduzimos a marcha e atravessamos Midelt de noite. À saída da cidade o Hotel Kasbah Asmraa apresentava-se imponente.Uma pequena surpresa, este Hotel, com uma decoração tipo Mil e Umas Noites.Depois do banho, um magnífico jantar: uma taginne de carne de vaca com ameixas.À entrada, o hotel tinha uma pequena loja, onde se fizeram umas tímidas compras. Dia 2 de SetembroEtapa mais desejada, a etapa de entrada no Vale de Ziz e das portas do deserto.Com o pessoal do FLR mais solto, foi curtir a paisagem do oásis do Ziz, até ao local do almoço, “Source Blue Eaux”.Depois de muitas negociações, almoçámos sem a companhia dos miúdos que queriam “cadeaux, “stilout”.Aqui, em conversa com um rapaz marroquino, estudante de informática, negociei a frase-chave da Expedição em árabe “ Adoro o meu Land Rover”, e toca a avançar com a obra de arte no painel do lado direito do Defender, logo abaixo do vidro traseiro. Com boa vontade, escreveu ainda Mestre, Vasco e Lima também em árabe.Ansiosos por chegar ao Aubergue du Sud, partimos para Arfud ou Erfoud, onde levantámos dinheiro no Multibanco. Alguns atestaram os depósitos.Depois de Arfud, ia começar a nossa aventura mais séria, no deserto e em navegação pura, pelo que desistimos de seguir por asfalto até Rissani.Concentrado, activei o track e lá fomos nós: uns radiantes, outros apreensivos, outros exaltados, de tal modo que passam pela caravana em linha a mais de 120 kms/hora que nem uma gazela. Qual CB, qual VHF, o homem ia doido, tão doido, que pirou e subiu para cima do tejadilho do Disco, a ver se via o pessoal: se calhar, acagaçado.Nas calmas e sem erros, seguimos até ao Aubergue du Sud, o poiso mais desejado, mesmo ali em frente ao Erg Chebbi. Sinceramente, foi emocionante. Em nosso encontro, veio o Hamid, num Defender 110, um Tuaregue simpático e muito atencioso.Recebidos por Moha, o proprietário do Aubergue que nos ofereceu um chá de menta, bolos, amendoins e pistachios.Depois de arrumar as bagagens, eu e o Lima sentámo-nos nuns cadeirões em cima de uma duna e eu disse: “E se pedisse mos autorização para dar uma volta de Def nas dunas?”. Falei com o Hamid e… liberdade total. Pegámos nos Defes e foi um abrir por ali acima e por ali abaixo até o pessoal ficar satisfeito. Os outros seguiram o exemplo, foi uma loucura total para uns e uns atascanços para outros.O Moha e o Hamid ainda não têm KDU a venda.Ao fim da tarde, algum pessoal vai de dromedário ver o pôr-do-sol, numa viagem de 2 horas de ida e volta. Garantem que foi emocionante.Bem por volta das 20.00 horas, começa a minha festa de anos. Foi uma festa inesquecível, em que o Moha se empenhou a fundo, ao pormenor: entrada de saladas, tagine de frango, melão e melancia, pizza de ervas e um belo de anos, com cobertura de chantilly. A festa começou com um show de tambor e músicas tuaregues, por pessoal fugido do Sudão. O Portelo e o Roque curtiram os sons até às 4.00 horas da matina.Nessa noite rebentaram as “bombas”, revelações enigmáticas que circularam durante meses no nosso correio da Expedição. O pessoal ficou tenso e elas saíram uma a uma, sem serem ignoradas mas ligeiramente assumidas. Essas as bombas ficam cá grupo: o que acontece em Marrocos, fica em Marrocos.Sobre a festa, haveria muito mais a dizer, mas eu guardo só para mim. São momentos meus, desculpem-me.Para minha alegria, nessa tarde chegou o João Leitão – para mim o man que tem o melhor Blog sobre Marrocos, com tudo, todos os pormenores. O João é um tipo prático e aberto. Penso que o Reino de Marrocos lhe deve bastante, e depois de uma longa conversa, aprendi bastante acerca de como gozar melhor Marrocos. Ao João Leitão o meu MUITO OBRIGADO. Dia 3 de SetembroDepois de uma noite muito quente, em que havia pessoal a dormir nos terraços, nas bancas, o pessoal a tirou a pressão aos pneus e aliviou a carga, ansioso pela aventura pura.O nosso guia Hamid acerta o novo preço com carro dele e mais 2 tuaregues e seguimos viagem. Primeiro, devagar, a apalpar terreno. Depois a esticar… e por fim na normalidade. O percurso começa por uma pista larga de pedra, com zonas de areia, até que fazemos a primeira paragem num pequeno oásis. Como manda a tradição, tivemos direito a banho salpicado. Seguimos viagens e parámos logo a seguir, onde fomos prendados com tâmaras directamente da árvore.Hamid, sabendo que o pessoal queria dunas e areia, dá esse gozo ao pessoal. Foi a loucura, uma curtição total. O “Savimbi” roncava de bloqueio ligado e em altas – o prazer da areia das pistas largas. Nessas alturas, penso que as nossas máquinas nos ouvem e respondem afirmativamente. Sinceramente, estou orgulhoso do meu Defender. Acho que nunca o irei vender, e que será uma relíquia da família, a passar de geração em geração. (NOTA: esta foi a parte em que o editor de texto cá da casa se esticou).Eis que depois do meio-dia, numa larguíssima pista de pedra, soa o alarme via CB: um disco, o do Silva, está a ferver e o pessoal para de imediato, junto a uma aldeia. Afinal, a avaria era fácil de solucionar; era um tubo cortado à saída do radiador. O Pedro Bastos, sempre ele na primeira linha, soluciona o problema rapidamente. Entretanto, o Silva que também é Luís, apercebe-se de um miúdo, descalço com um pé embrulhado num saco de plástico cheio de uma pasta vermelha. Chama o miúdo e mãos à obra: limpa o ferimento, desinfecta-o, dá um toque de fisioterapeuta, põe um penso, chinelos para aqui, medicamentos para ali. O Espírito Solidário do FLR em acção. Ficámos radiantes e, porque não, inchados e com o maior ego.Partimos para o almoço em Merzouga, mas pessoal era o descalabro total, numa zona rápida entre árvores ou arvoredo em pista de areia, foi um bombar total, alucinante, a dar o máximo, tendo em atenção sempre o companheiro de trás. Sinceramente foi uma curtição total até Merzouga.Merzouga é um lugar triste, seco, incaracterístico, impessoal e distante, mas onde o Hamid nos levou a almoçar numa casa cheia de tapetes, onde comemos uma excelente pizza de ervas e bebemos litros de coca-cola bem gelada.De repente, uma primeira baixa: a Alves tem uma quebra de açúcar ou de sal, nem sei, e o Lima puxa da sua função de “Bombado” e trata o seu amor com carinho, a “Home”.Almoçados, saímos de Merzouga para Rissani onde atestámos os Lands antes de seguirmos para o Aubergue. Eis que soa novamente o alarme: o Land do Vieira estava na fase da cozedura de ovos em segundos. Pára a caravana e resolve-se o problema, mais uma vez com a preciosa ajuda do PB.Rissani, cidade impessoal, distante, onde o Hamid até ligou os 4 piscas – porquê, não sei. Atestámos e seguimos para o Aubergue. Uns foram descansar para as dunas, outros preferiram namorar, outros matar alforrecas, outros para o tanque contar com amis sal as aventuras.Eu fui com a Rosa, o Bela e a Tati apreciar as dunas. Foi um tempo de reflexão, de gozar o momento e preparar o dia seguinte.Eu estava muito feliz: por tudo, porque fazia 55 anos, porque fazia 32 anos de casado, porque estava de bem comigo e estava entre amigos e vinha aí outra grande festa.Como manda a tradição, à noite houve festa rija, com o aniversário do Luís Gese/Gise. Dia 4 de SetembroDe manhã bem cedo, com o pessoal cansado e triste, já com saudades, carrega os Lands, enche os pneus, verifica os filtros e faz a sua limpeza, vê o nível do óleo, mas só os Discos, eheheheheh, e prepara-se para a foto de grupo.Moha e Hamid marcam presença. Emocionados, fazemos as despedidas, prometemos voltar e seguimos nós para a foto de grupo nas dunas. O que seria uma coisa rápida, durou mais de hora e meia e não saiu, por causa do do KDU e dos atascanços. Face a este imprevisto, ponderei bastante e anulei o troço entre Merzouga e Alnif por pista, e em boa hora tomei esta decisão. Saímos quase as 11H00 do Aubergue du Sud. Eu com uma lágrima no canto do olho, pois adorei o local, o tratamento e a minha festa de anos. Mas tínhamos de partir para aquela que seria uma etapa épica. Basamos prego-a-fundo por pista que liga ao asfalto, e reagrupamos na EN. Seguimos para Rissani, atravessamos a cidade muito devagar e lá fomos nós para Alnif, o ponto escolhido para a entrega do material escolar à Associação Bougafer. Chegámos rápido a Alnif, foi sempre a dar-lhe. À entrada da cidade, como sempre lá estava a operação STOP dos Gendarmes. Pergunto-lhes onde fica a Associação e, simpáticos indicam e telefonam aos professores. Paramos mais a frente num café e lá estava o Professor, dizendo que o Presidente vinha a caminho.Toca a descarregar o material, que era bastante e de excelente qualidade. A associação fez um inventário de todo o material oferecido. De seguida, sou encaminhado pelo Presidente a entrar nuns becos e eis que estou em casa dele. Sou apresentado à família, mostra-me a casa e oferece-me um chá de menta. Ao sair, coloca a minha mão no peito dele e diz-me “És meu amigo agora, dá-me o teu e-mail”.Voltei ao local e fomos todos a pé a Sede da Associação. Vimos o que faziam, como faziam, o que me agradou bastante.Um OBRIGADO ESPECIAL À LIBERTY SEGUROS E AO FLR.Feitas as despedidas, tínhamos a pista de Alnif a Tinerhir à espera. Pedi ao Lima e ao Anágua para irem a frente com o Track previamente dado.A pista tinha muito pó, mas era fácil, pois era sempre a subir. Paramos para almoçar e só no final é que apareceu um berbere a pedir água e comida. Demos-lhe muita comida e sumos, mais uma boa acção que caracterizava as situações mais marcantes da Expedição no campo das emoções e dos sentimentos, mesmo para tipos de ferro.Entramos pelo sul de Tinerhir e eis que temos lá em baixo um magnífico oásis, todo cultivado, rico em vegetais e outras verduras, graças às águas do Todra.Pelas 17H00, chegamos às Gorges du Todra e a vista imponente silencia o pessoal.Os mais afoitos tomam banho nas águas frescas e bebem umas cucas. Eu tenho o segundo nó na garganta, não na do Todra, mas na minha. Pelo que tinha pesquisado, era obra unir as Gorges du Todra a Gorges du Dadés. Falei com o “SAVIMBI” – é isso mesmo, falei com o meu Defender -, e ele deu-me força. Acertei bem o track, desabafei com o Lima, e cá vamos nós. Confiantes para uma grande aventura. Ao escrever agora este texto, as lágrimas correm-me pela face, tal a emoção que vivi. É a verdade, amigos.Chegámos a Tamtattoucht e pedi ao Lima para levar o meu 276C com o Anágua, para avançarmos para a travessia que une as duas Gargantas.À saída da povoação fomos avisados para não seguirmos a pista, pois estaria cortada e intransitável, mas o Anágua e o Lima avançaram depois de me consultarem. Nesta altura seriam para aí umas 18H00. Devagar, entrámos na pista com cerca de 2500 a 2800 mts de altitude. No início, nada de especial, rolante. Encontrámos uma família berbere, oferecemos roupas e alguma comida. Com precaução, avançámos. Até que, no meio do nada, vimos escrito no chão com tinta branca, “Aubergue a 1Km”. Nesse local podia-se ir pela pista do GPS ou por outra mais abaixo, eu e o Anágua fomos a frente pela do Gps, enquanto o pessoal ficou a aguardar indicações. Aquilo era mais de 1 km de trial em degraus de pedra… Chegámos ao cimo, onde encontrámos a bifurcação e mandámos avançar o pessoal pela pista de baixo.O Aubergue tinha cerca de 10.00 m2 e tinha escrito ”Toyalletts” e “Informacion de pistes”. Ignorámos e descemos para a cota 2500, quando alguém diz no CB, “estão miúdos a sair de tocas”. Eis que numa descida acentuada, junto a uma rocha saliente estava um miúdo com um violino de lata, com cara muito triste a pedir água e comida com gestos. Pôrra pessoal, aquilo ali, no meio do nada, era arrepiante. Entretanto, chega outra miúda e o pessoal deu tudo o que podia e entrou em “Mute”…Entretanto, o Lima fica sem bateria no 276C e eu retomo com o Anágua à difícil missão dos 42 Kms.O tempo passa, a marcha é lenta e a distância ao destino ETA no GPS não diminui. Mas nada de apreensões, estamos no percurso certo, sempre em cima do track.Para terminar com o “MUTE” e aliviar as tensões da escuridão do percurso e do que aconteceu antes, proponho uma lista de nomes para o SAVIMBI, já que o nome, dentro do meu Def, não é consensual. O pessoal aceita o repto e timidamente alvitra, Samuel, Sansão, Salvador, Savoire Faire, Salpicão, Sabichão, etc., mas SAVIMBI, resiste bem como JUSTINO no Disco do Bela.À frente, eu e o Anágua mantemos o pessoal confiante e aceleramos um bocado; aí entornou-se o caldo, mas nada que não passasse de arrufos da noite que ia longa.Levávamos os dois os 276C com o zoom à escala de 50 mts, era tudo ao pormenor. Por volta das 2H00 da matina digo ao pessoal, “estamos a 1 km do rádio farol e a 3 de Msemrir”. Entrámos no asfalto e pedi ao Carlos Oliveira para levar o SAVIMBI até ao Aubergue Vallée de Dadés, ainda a 22 kms, os meus olhos não aguentavam mais.Junto ao Hotel Vallée de Dadés, eis que surge um rapaz no meio da estrada a mandar entrar para o Parque.Vou à recepção e vejo que alguma coisa não está bem. O man dono do hotel via encher o hotel com 13 quartos, mas não tinha o meu fax, nem jantar… Achei estranho, fui ao SAVIMBI, buscar a marcação, mas o man não sabia do fax. Entretanto todos tinham já chaves e estavam nos quartos, o man queria era ter o hotel cheio. Dei o fax, o man viu o preço, viu-me zangado e disse, “ O Aubergue du Vallée é a 5 Kms”. O Carlos Oliveira estava na sanita quando recebe ordem de marcha. Lá vamos nós, com o Silva a comandar as operações e a disparar no CB: “Pessoal, estou a ver o Aubergue, mas está tudo as escuras; estamos tramados”. Mando estacionar no Parque e lentamente o Aubergue renasce, com as suas luzes e Sr. Yoseuf (??) muito zangado.Roque e Yoseuf trocam acesos galhardetes eu apago o fogo. Bela, zangado, chega ao pé de mim e dispara, “O meu quarto é uma merda”. Yoseuf compreende e vai aos arames. Distribuídas todas as chaves, eu fico a conversa com o Yoseuf, peço desculpa, conto rapidamente a epopeia e o ambiente fica calmo.E a janta?, pergunto eu às 3 da matina. Responde Yoseuf que estava para sair. Ana Alves e Rosa Maria ajudam a pôr a mesa, enquanto Yoseuf pede silêncio, pois há mais hóspedes. E não é que temos sopas, espetadas de vaca e melão?Cansados, fomos para a cama. Com horário de saída para as 10.00 horas. Este dia jamais será apagado da minha memória. Dia 5 de SetembroRefeito do dia e da noite anterior, o pessoal estava radiante e começava a esboçar os primeiros sorrisos. Até Yoseuf ria de orelha a orelha – Roque tinha feito as pazes com ele e vice-versa.O pequeno-almoço era bom e partimos para Ouarzazate, para merecido descanso. A viagem decorreu normalmente, por asfalto até a cidade, onde nos esperava um belo e moderno hotel com uma excelente piscina.Qual foi o meu espanto quando chego à piscina e vejo Joca e o Carlos Oliveira a serem servidos com uns belos Bacardis!O pessoal foi chegando e começou o festival de bombas na água.Saímos para ver a Medina e parte da cidade e também para comprar os primeiros “recuerdos”, com duras negociações.O jantar foi no Hotel – uma Tagine de carne de vaca com salada.O pessoal foi para a sala da Internet mas era o desatino total, com o teclado Azerty. Dia 6 de SetembroLá saímos às 10.00 horas em direcção aos estúdios de cinema para uma visita, mas népia, estavam em filmagens. Decidimos basar para Ait-Bennadou, e atacar a linda pista de Telouet. A pista em encosta é cansativa e, por vezes, perigosa. Mesmo assim, decidimos que deviam ser os (e as) co-pilotos a levarem os Lands. Posso dizer que era bem melhor fazer a pista das gargantas novamente… Lol!Entretanto cruzamos com um Toyota com matrícula holandesa (?!) que ia a caminho da Africa do Sul.Depois de umas 3 horas a subir por uma pista estreita, mas com um belo e luxuriante oásis a esquerda, chegamos ao asfalto e rumamos a Marrakech, por volta das 18H30.Reagrupamos o pessoal numa moderna área de serviço, e marcamos o track para um hotel próximo do nosso, mesmo à Tuga. Anágua e eu na frente e lá vamos nós entrar no inferno do trânsito de Marrakech. Instantes depois, tudo partido, e os CBs a aquecerem de tanta indicação. Apanhamos uma via de serviço e reagrupamos o pessoal. Partimos e o GPS a mandar-nos para o miolo, onde fervilhavam milhares de mobilletes, burros, bicicleta, cadeiras de roda e petiz táxis, era o caos total, era a loucura. Eis que estamos no meio da Medina, mal cabe um Petit táxi, quanto mais um Land, mas Tuga que é Tuga ri e avança, agora em fila compacta, ninguém entra ou é esmagado – mesmo à Tuga. Acontece o imprevisto, um Petit táxi estava a barrar o caminho e eis que Petit táxi elevado ao colo por populares. O Land do Silva vai cheio de putos em cima do pneu suplente, mas como dizia a Fidalgo: “É um orgasmo Psicológico”.Eis que Anágua pára pedir informações ao Gendarme e tenho o meu SAVIMBI, rodeado de pessoal e putos a ler a frase em árabe, e toca a sair fotos de família.Partimos e disse ao Anágua, “aluga um Petit táxi”, e lá fomos nós para o hotel com direito a Petit táxi a abrir o percurso.O Hotel Andalous é um belíssimo hotel 4 estrelas, a bom preço, perto da Praça J’ema al Fna.De seguida, jantar no Hotel e rumo à Praça. Festival de sumos de laranja, viagens de charrete ou Petit táxis.Nessa noite decidimos ficar mais uma noite no hotel, face à relação qualidade/preço. Esta foi a melhor opção em relação a uma possível ida para Casablanca. Dia 7 de SetembroDia livre para todos, dedicado a compras, a piscinas. Nada de importante a assinalar para além do facto da Rosa Maria estar apta a voltar a Marrocos sem medos ou receios e a enfrentar os vendedores.Bebemos uns suminhos de laranja naturais, feitos na hora, a 0.30 € cada um. Ninguém queria saber do gelo, da água; queríamos era matar a sede.Eu abanquei num daqueles Tascos da Praça e vai de aviar uma sandoca de carne e umas azeitonas. Adorei Marrakech, a sua confusão e tenho de voltar. Dia 8 de SetembroTemos para fazer 638 Kms até Ceuta (via Tânger) ou cerca de 700 (via Tetouan).Decidimos – e bem – avançar pela auto-estrada, mas como ninguém queria trazer dirhans, foi o desassossego total, o guito estava muito contado a justa e em alguns caros faltava para as portagens que não recebem euros, nem cartões. O pessoal não atestou os Lands em Marrakech, porque havia bué de áreas de serviço, mas népia. Avistam-se as placas, mas às áreas, nem vê-las.Eis que próximo de Larache vimos um centro comercial enorme e o MacDonalds e bombas (…de gasolina, claro), foi o alívio total. Recarregámos as baterias e lá fomos nós, felizes via Tetouan, para Sebta. A zona de Tetouan é moderna e as praias de Martil e M’Diq um espanto: Europa no seu melhor.Ás tantas, somos mandados encostar por polícias em potentes motas, e eis que passa a caravana real, de onde sobressaía um RR Dourado com 3 eixos que ocupava quase a estrada toda.Tínhamos barco as 22H30 e lá fomos, com o coração apertado para a fronteira. Mas foi tudo muito rápido sem stress.Parámos do lado de lá, já em Ceuta, e à moda de cada um, extravasamos as nossas emoções.Agradeci ao pessoal, porque fomos “amigos e conhecidos” e viemos mais fortes, mais solidários e mais amigos.Tirámos a foto de família e marcamos a próxima para o final de ano de 2008.Já somos 16 Lands. Por mim, missão cumprida. OBRIGADO A TODOS.Rosa Maria, Luís Filipe, Anabela Seita, João Anágua, Sandra Croft, Vasco Lima, Ana Lima, Glória Fidalgo, Pedro Fidalgo, Susana Lousada, João Pedro, Célia, Pedro Portelo, Roque, Luís Costa, Joca, Paulo Cardoso, André Bela, Tatiana, Carlos Oliveira, Susana Araújo, Luís Silva, Carina Valadas, Chico Lopes, Paula Pereira, Pedro Bastos e Carina Silva.OBRIGADO À MINHA FAMÍLIA, ROSA MARIA, NUNO E RUI, POR ME ATURAREM.Aos que eu queria que fossem, mas não puderam, André Cordeiro e Carlos Vieira, estiveram sempre presentes.
Comentários
3 comentários a “1ª EXPEDIÇÃO LANDLOUSÃ/FLR MARROCOS 2007”
Apesar de todo partidinho depois da prova do “Rainforest” ainda conseguiste que lesse cada letrinha do teu relato.
Simplesmente espetacular não so pela sua forma mas, pela saudade que deixa.
Grande Abraço!
Todos temos de te agradecer, indiferentemente de pertencermos ou não à tua família, mostrás-te mais uma vez que te empenhas em tudo que te propões fazer. Todas as horas dispendidas foram compensadas pela beleza das paisagens e por todos os momentos vividos nesta expedição a Marrocos.
Rosa Maria
A ti mestre só tenho uma coisa a dizer…obrigada por existires…aliás por existirem…um beijo mt grande Rosinha.
P.S.Mestre, o relato antropológico está a ser cozinhado…