Não obstante o grande crescimento verificado já no período de 2011/2012, é expectável que em 2013 os serviços de GPS continuem a crescer fundamentalmente através dos mercados de tablets e máquinas fotográficas. Segundo um estudo da empresa americana ABI (“Location Applications for Tablets, eReaders, Digital Cameras & Handheld Gaming”) prevê-se que só ao nível das máquinas fotográficas digitais sejam vendidas 10 milhões com o chipset de GPS incorporado. O georreferenciar de fotografias poderá, pois, constituir um importante impulsionador de todo um conjunto de novas aplicações de gestão de trajetos, pontos de interesse e mapas.
Lançamentos como os do Google Nexus 7 ou Apple iPad mini atuarão com certeza como impulsionadores ao nível dos tablets. No entanto, muitos destes equipamentos espelham ainda os ambientes dos smartphones, mais concentrados na oferta de serviços de navegação web, redes sociais e partilha de conteúdos, ou pesquisa. Aqui, os serviços de posicionamento obtêm-se essencialmente a partir de conexões Wi-Fi/GSM/GPRS, tecnologias que para muitos analistas continuarão ainda a ser um dos principais obstáculos a uma maior difusão dos serviços de GPS.
O lançamento pela Sony da consola de jogos Vita era aguardado como o pontapé de saída para os serviços LBC (location-based gaming), mas a inclusão do módulo de GPS como opção em desfavor do Wi-Fi (de série) demonstra claramente que 2013 não será o ano da difusão em larga escala do LBC pela indústria de entretenimento (Sony, Nintendo, Sega, Microsoft, entre outras).
As tendências ao nível dos denominados recetores GPS para atividades de outdoor apontam para:
- Incorporação de Bluetooth;
- Receção de dados do sistema russo de navegação por satélite (GLONASS), como um complemento à rede americana GPS, aumentando assim a sua precisão.
Ainda neste contexto, assistiremos muito possivelmente ao aumento da oferta de cartografia digital baseada em LIDAR, se bem que a GARMIN apenas preveja a sua utilização em 2014.
De um ponto de vista das plataformas, a fragmentação tradicional até aqui verificada entre os ambientes Windows/Mac OS, atraindo software especializado de preparação de viagens e organização de cartografia (como por exemplo o BaseCamp, OziExplorer ou CompeGPS Land), e os ambientes mais ligados à mobilidade, como o Android ou o iOS, concentrados no software de navegação sobre os objetos e dados descarregados dos primeiros (casos do BaseCamp Mobile App, OziExplorerCE, OziExplorer Android ou CompeGPS TwoNav), poderá finalmente terminar com o lançamento do MS Windows 8.
A aposta na versão 8 do sistema operativo Windows, com tudo o que representa do ponto de vista de abrangência e interoperabilidade entre plataformas (PC’s, laptops, notebooks, ultra notebooks, tablets, smartphones e demais gadgets), pode vir a constituir já em 2013 uma mais-valia quer para o produtor de software, a ter que se preocupar com o desenvolvimento de apenas uma versão, como para o cliente final, o qual poderá poupar em licenças, pois passa a associar num único ponto a preparação de trajetos, calibrar de cartografia e navegação. Aliás, neste particular, a tendência para a baixa de preço, a par do aumento de capacidade das unidades sólidas de armazenamento (os denominados discos SSD), têm vindo a constituir um fator crítico de sucesso.
Em termos de ambiente iOS, ou seja iPhone e iPad, as opções quanto a software de navegação offroad permanecem um pouco mais limitadas quando comparadas com as da concorrência. Apesar da intenção demonstrada pelo seu criador, o OziExplorer ainda não se encontra disponível e, tendo em conta o lento desenvolvimento que tem sofrido em Android (lembramos que se encontra ainda em fase beta), não é crível que chegue em 2013. Assim, para quem pretende navegação offroad as opções continuam a centrar-se fundamentalmente em torno de produtos como o CompeGPS TwoNav, ou ainda o Memory Map e o Maps n Trax (sucessor do Bit Map). Conforme já referimos, tratam-se fundamentalmente de aplicações orientadas para a navegação, a partir de dados e cartografia preparados e descarregados de outras aplicações/plataformas. Em relação a estes produtos e no que toca à oferta de fontes, partem claramente à frente o CompeGPS TwoNav, não só pela vasta oferta em formato proprietário como pela possibilidade de acesso a outros formatos populares entre nós, casos do Geotiff ou até do OziExplorer, e o Maps n Trax, capaz de, com algum trabalho, aceder a cartografia no formato OziExplorer.
O falhanço que representou a introdução de uma aplicação própria de cartografia e navegação por parte da Apple sobre plataformas iOS (iPhone e iPad), com o consequente retorno do Google Maps (a registar 10 milhões de downloads nas primeiras 48 horas que se seguiram ao seu lançamento), tem levantado rumores insistentes sobre a aquisição de um dos grandes “players” nesta área por parte da empresa cofundada por Steve Jobs: a TomTom, já de si dona da Tele Atlas, empresa holandesa produtora de cartografia digital e grande concorrente da americana NavTeq.
À semelhança do que ocorre com a plataforma iOS, a oferta de software de navegação em Android ainda está muito ligada à utilização de fontes online (globais ou regionais), descarregadas à medida das necessidades (o que pressupõe a disponibilidade de conexões Wi-Fi / GSM / GPRS em tempo real) e armazenadas em cache local.
No entanto, em Android a oferta de produtos de navegação numa vertente “pura” de off-road apresenta-se já bem mais madura, o que deixa antever para 2013 os dispositivos em Android como uma alternativa viável e mais barata face aos denominados dispositivos autónomos ou “stand-alone” da Garmin e Magellan.
Na plataforma Android não só dispomos do CompeGPS TwoNav como do OziExplorer (se bem que numa fase “beta” e com uma interface muito pouco adaptada ao denominado “look & feel” da plataforma), mas também de outros produtos muito bem conseguidos do ponto de vista de desempenho, funcionalidades apresentadas, formatos suportados e robustez (tolerância a falhas):
- OruxMaps;
- Back Country Navigator;
- Androzic.
Tenho que confessar, todavia, alguma desconfiança ou pelo menos um sentimento misto no que toca ao desenvolvimento de alguns dos produtos. Há data da publicação deste post, o OziExplorer não regista quaisquer novas atualizações desde Agosto de 2012, depois de períodos muito intensos de desenvolvimento, com a agravante de manter numa fase beta desde 2011. Ao nível do OruxMaps registámos igualmente um grande hiato entre a versão 4.8.64, de Agosto, e a versão 5.0.0, de 29 de dezembro, mas tal ficou muito provavelmente a dever-se ao redesenho total da interface, já que a grande novidade em termos de funcionalidades reside no suporte de camadas KML / KMZ para mapas.
A Garmin, por seu lado, deverá apresentar já em 2013 um “refrescar” das linhas Oregon e Nuvi. Ao nível do software e navegação e com o lançamento a 21 de Setembro do BaseCamp Mobile App para iOS 5.1 (ou posterior) mostra claramente uma tendência para o futuro: o aproveitamento dos smartphones e tablets enquanto recetores auxiliares dos dados provenientes de antenas e, sob cartografia, exibirem através dos seus ecrãs (mais generosos em dimensão e/ou resolução gráfica) os trajetos percorridos. Para já estamos a lidar apenas com dispositivos Garmin Fénix, dotados de ligações por Bluetooth (mais especificamente Bluetooth Low Energy ou BLE) e software com mapas Google, atualizáveis a partir de conexões Wi-Fi / GSM / GPRS.
Em 2013, o BaseCamp Mobile App sempre terá uma versão para Android e deverá passar a suportar mapas vetoriais nos formatos nativos da própria Garmin (Mapas Topo).
A avaliar pelas apresentações da própria Garmin, é também muito provável que o software de atualização (para já conhecido como Garmin Express) seja completamente revisto e ampliado de modo a permitir atualizações automáticas de firmware/software, mapas e vozes, bem como proceder ao backup e restauro dos favoritos.
O ano de 2013 inicia-se para as regiões da Ásia e do Pacífico com a entrada em funcionamento ao nível civil de um novo serviço de posicionamento, concorrente do americano GPS: o sistema chinês Beidou. Tendo início em 200 por razões estratégicas de independência face ao sistema GPS controlado pelo exército norte-americano, conta hoje com 16 satélites de navegação e 4 satélites experimentais. Já em 2011 tinha sido iniciada a disponibilização de serviços de posicionamento a uma escala doméstica para depois, no dia 27 de dezembro de 2012, serem alargados a uma vasta área do Oriente e Pacífico, abrangendo mesmo países como a Indonésia, Nova Zelândia ou Austrália. Espera-se que forneça uma cobertura global por volta de 2020.
É certo que o sistema Beidou terá que concorrer com um sistema livre, fiável, bem conhecido e testado à escala global, como é o sistema GPS, mas tendo em conta que se desenvolve precisamente no epicentro da indústria eletrónica, poderá impulsionar a construção de todo um conjunto de novos chips e aplicações nos domínios do posicionamento e navegação. A ver vamos…
Um bom ano (na medida do possível), cheio de bons trilhos e navegação…
Comentários
2 comentários a “Tendências e previsões para 2013 (em matéria de navegação)”
Boas João. Parabens pelo artigo e pelo trabalho que estas “coisas” dão.
Um abraço e votos de um bom ano 2013
Muitos parabéns pelo artigo, não é nada habitual encontrar artigos sobre esta temática em português com esta qualidade.
Bom ano ao João Cardoso e pessoal da LandLousã!