FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS – 6.º

A data é o que menos interessa, talvez a sua situação no tempo seja uma referência.
Século passado, início dos anos 60, muito longe daqui, na costa ocidental de um continente irmão. Tinha 8 anos de idade.
Um dia normal como os outros para quem morra no subúrbio de uma grande cidade, seja para quem mora num Musseque, onde reinava afinal uma calma aparente.
Ao final da tarde desse dia, o êxodo diário da população que regressa aos Musseques do Marçal, Rangel, Sambizanga, foi diferente, mais apressado, quase que como um recolher obrigatório.
Mas quando a noite caiu, fez-se silêncio e cerca das nove horas da noite começou a metralha.
O Musseque do Marçal na sequência da tomada de assalto da Cadeia dos Presos Políticos, fica em polvorosa e era necessário buscar um lugar seguro.
Depois cerca da meia noite, quando os disparos se tornaram menos intensos, foi possível ir a rastejar, eu e a minha mãe para o Bairro do Teixeira, logo ali onde começa o asfalto e a areia vermelha do Musseque Marçal.
O Musseque Marçal nunca mais foi o mesmo, porventura com montes de razão pelo antes e pelo se passou depois.
Ainda hoje na minha memória desenho em pensamento os becos apertados, as “casas” de barro e chapa de zinco dos meus amigos, e todos os dias de lembro das passeatas de “Rudge” até ao longínquo Rangel para estudar com amigos da escola 147.
Memórias para sempre…………………………………………………………….