FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS – 7.º

O que as televisões têm passado de imagens da Guerra no norte do Mali, levam a Abril de 1992, onde na mesma zona, bandos armados nos emboscaram e assaltaram por duas vezes.
Reconheci, nessas imagens algumas alguns dos edifícios de Kidal e de Gao, nomeadamente o aeroporto.
Essas imagens transportam-me a lembranças de terror e medo, porque não, numa zona de ninguém cuja área é quase 3 vezes superior à da França, onde quase nada vive ou subsiste.
Assim, naquele dia 2 de Abril de 1992, saímos bem cedo do acampamento, pela calada da madrugada… penso que até os motores falavam baixinho, tal era o cagaço de mais um assalto ou da liquidação total.
Tomamos uma direcção errada, o que nos levou a andar mais para a esquerda quando deveria ser um rumo mais a norte. Chegamos a Kidal, ao final da manhã, depois de quase 600 kms de terra de ninguém sempre a espera do pior. Felizmente nada nos aconteceu e ao longe aparece um aglomerado de casas da cor da terra, onde fora da “cidade”, se destacava uma construção com uns 4 m2, parcialmente coberta com uma chapa, uma pequena mesa e um assento de camioneta a servir de cadeira. Esta construção era o Posto Fronteiriço, que ficava a cerca de 1200 kms de Tin Zouatine, onde ficava o Posto Argelino.
Depois de uma longa à espera, aparece um soldado com arma à cinta, casaco camuflado, calções e chinelos. Sem problemas, carimba os passaportes e avisa-nos que a coluna militar que garante a segurança do pessoal até Gao sairia às 13.00 horas. O tempo estava quase a queimar, mas mesmo assim ainda deu tempo para beber uma gasosa numa espécie de mercearia.
No meio de Kidal havia um poço, enorme em diâmetro, onde estava parte da população numa longa fila com bacias e baldes para enchimento. Quando a escolta militar avança, fixo um edifício que tinha um letreiro que dizia, “Casa da Justiça de Kidal”……