O término de uma expedição representa sempre para nós a oportunidade para definir a área geográfica da seguinte. E, para 2013, a aposta passou por uma zona mais a sul de Marrocos: o Sahara. Trata-se de uma zona com particularidades muito próprias: pista rápidas, demolidoras e, por vezes, a “pisar” o perigo, por motivos óbvios que não iremos aprofundar.
O núcleo do grupo de sempre não apenas se manteve, como acabou reforçado em boa hora por novos elementos, todos eles unidos por um forte espírito de camaradagem e entreajuda, ao mesmo tempo que animado pela procura de emoções em zonas inóspitas e geradoras de adrenalina.
O que se segue é um relato cronológico desta expedição, naturalmente resumido e centrado nos seus aspetos e sensações mais relevantes.
1.º Dia
Tânger-Med a Camping Achakkar – 70 Kms
Dia do ponto de encontro, o qual teve lugar na Gare Marítima de Algeciras, onde tomaríamos o Ferrie das 21horas. Acabámos por pernoitar num parque de Campismo a sul de Tânger, o Camping Achakkar, junto à Gruta de Hércules. Trata-se de um parque com boas condições, localizado junto ao mar.
2.º Dia
Camping Achakkar a Relais Marrakech – 562 Kms
Dia de ligação, já que havia ficado acordado que o ponto de partida da expedição seria Marrakech.
A viagem, apesar de extensa, correu sem problemas, permitindo abastecer os carros com comida e água num dos supermercados de marca “Marjane”, já na circular de Rabat. Também aí aproveitámos para carregar os telemóveis e os cartões de acesso e navegação na Internet, junto dos operadores locais.
No final do dia, a caravana reunir-se-ia num excelente Relais 4×4, logo à entrada de Marrakech, um ponto de encontro, por excelência, para expedicionários, viajantes, campistas e “vagabundos”.
3.º Dia
Relais de Marrakech a Camping Arganier – 386 Kms
Partimos de Marrakech em direção a Tafraoute, no Anti Atlas. O destino era o sul como havíamos originalmente estabelecido, pelo que deixámos de lado algumas das pistas de montanha do vizinho Alto Atlas, em detrimento do alcatrão.
Avançámos, pois, por uma estrada de montanha, usufruindo da beleza da paisagem. Como pontos mais marcantes: Asni, Ouirgane, Col du Tizi-n-Test. E, uma referência muito especial para a Mesquita de Timmel. Local, atualmente em fase de restauro e a aguardar classificação por parte da Unesco, que pudemos visitar.
“A mesquita de Timmel é uma das únicas duas mesquitas de Marrocos que não muçulmanos podem visitar. Trata-se de um edifício com linhas arquitetónicas de grande pureza. É mesmo considerada o arquétipo das grandes mesquitas dos almóadas, cujo modelo se difundiu por todo o Magrebe ao longo dos séculos seguintes. Ligada intimamente à história de Marrocos e à figura Ibn Toumert , que durante o século XII, convencido da degradação almorávida, iniciaria um movimento político-espiritual de conquista que o levaria às portas de Marrakech e o seu sucessor, Abd al-Moumen Ibn Ali, ao Califado de Granada, já na Península Ibérica. Ali estão sepultados Ibn Tumart e os três primeiros califas da dinastia almóada: Abd al-Mu’min, Abu Ya’qub Yusuf e Abu Yusuf Ya’qub al-Mansur (o famoso Almançor).A mesquita foi inscrita como candidata a Mundial da UNESCO em 1995.”
Neste dia, o trajeto terminaria já pelo final da tarde no Camping Arganier, localizado a 5 km de Tafraoute. Mesmo assim e cumpridas que foram as formalidades de entrada, houve tempo para reabastecer as viaturas com combustível e comida, já que os dias de autonomia se avizinhavam.
Uma das viaturas o Defender “Martelinho”, começava já a apresentar os primeiros indícios de problemas mecânicos, muito em parte devido ao peso dos seus pneus 35”: o desaperto das porcas das mangas de eixo. A situação seria resolvida já depois do jantar, com a substituição daquelas por porcas com anilhas de segurança utilizadas nos antigos Land Rover Serie.
4.º Dia
Camping Arganier a Bivouac 1 – 330 Kms
Primeiro dia em pista e, talvez por isso, também um dos mais desejados pelos membros do grupo.
Logo a abrir, um percurso, com a extensão aproximada de 45 km, conduzir-nos-ia por uma das mais belas paisagens de Marrocos: as Gorges de Aït Mansour. Imponentes e com um oásis que percorre o seu vale profundo. De uma limpeza sem precedentes, nelas “pontilham” inúmeros bares e pequenos albergues que permitem a quem as percorre usufruir de uma zona fresca e verde, onde as construções como que se “penduram” e confundem com as cores da paisagem.
A partir de Talat Yssi, entrámos no leito seco de um Oued (rio) pedregoso. Pista dura e demolidora para os nossos 4×4, cujos 45 km até Im-Ouzlag demorariam 2h30m a percorrer. A meio do troço, um dos Land Rover Defender o “Martelinho”, ficou sem travões traseiros, já que o tubo dos travões do lado direito, mal fixado ao eixo, se partiu. Provisoriamente o tubo foi eliminado, vincando-o. Só dias mais tarde seria resolvido em definitivo.
Chegados a este ponto (Im-Ouzlag), a caravana partiu-se em dois. A maior parte do grupo optou por seguir o leito do Oued, sem trilho à vista, facto que dificultaria a chegada ao cruzamento com a Nacional 12, perto de Aït Herbil.
Com o calor a apertar registámos a primeira pseudo avaria, a afetar um dos Land Rover Discovery o “Helfalump”. Suspeitando de cubos das rodas ou dos rolamentos, acabámos por parar numa bomba de combustível com um pequeno fosso. A rápida inspeção acabou por revelar um problema bem mais simples: porcas das jantes desapertadas.
Uma “bucha” rápida e logo se retomou o caminho em direção a Assa, local marcado para o reabastecimento e entrada na pista que nos conduziria ao ponto de “bivouac” que fechava o dia.-la
e reabastecemos sem ver vivalma, talvez devido ao calor, mas ainda assim com a impressão de se tratar de uma cidade agradável e limpa.
Sensivelmente a 40 km de Assa, tomámos uma pista que nos conduziria a Lebouirat ou Hassi Labbayrat. Deparámo-nos, não com o traçado antigo que dispúnhamos na cartografia, mas antes com uma pista em terra, larga, rápida e poeirenta. A meio, um camião avariado e, da tentativa infrutífera em ajudar a reparar, ganhamos por momentos dois “penduras”, os seus motoristas, que haveríamos de largar no estaleiro, à entrada de Lebouirat.
Já nesta localidade em vão confirmar as previsões meteorológicas dadas em Assa e que apontavam para um agravamento do estado do tempo (ventos fortes) durante os próximos 3 dias.
Efetivamente já nos deparávamos, com vento e muita poeira, mas ainda assim decidimos avançar para uma zona abrigada já depois de Lebouirat. Passados 12 km deste infletimos à esquerda e procurámos junto ao leito de um Oued profundo um local abrigado para montar o acampamento.
Amanhecer no Bivouac, perto de Lebouirat.
Pôr-do-sol no Bivouac, perto de Lebouirat.
Fechámos com uma noite soberba, boa disposição, uma grelhada de picanha e, sobretudo boa disposição.
Continua com a parte 2….