UMA HISTÓRIA DE QUASE NATAL….Dizem

Dizem, que chegou sem contar, num dia frio de inverno, despido de afectos e vestido de raiva. Dizem, que desceu a escada do avião e degrau a degrau, contando o tempo e ao mesmo tempo, num turbilhão de imagens e acontecimentos ia buscando solução para o imprevisto. Dizem, que ele, já tinha passado por diversas guerras, todas marcantes e impiedosas, mas esta sem armas era a mais difícil de todas.

Dizem, que o ar gelado da madrugada no aeroporto, não lhe gelava a alma tolhida pela guerra, embora viesse de mangas de camisa, dizem que se fez ao desafio, sem armas, sem dinheiro, mas dignidade e sobretudo, com o maior amor da vida dele.

Dizem, que olhou para todos os lados e sem tostão, se manteve firme, buscando por entre as pessoas, aquela que mais amava, e lá estava ela, linda como sempre, sorrindo e pronta para a luta.

Dizem, que a sua busca incessante em buscar o ganha-pão, calcorrear a “Nobre e Invicta”, numa corrida desenfreada a pé, sempre de cabeça erguida, sempre em luta, nunca se conformando com a resposta “é novo demais, lamento”.

Dizem, que obstinado, nunca desistiu da procura até que começou a sentir nos pés, o frio da calçada de granito, o cheiro doce dos pastéis, e os aromas do café, seja comia com os olhos e sentia o rugoso do granito nas plantas dos seus pés.

Dizem, que um dia, uma aristocrática, sabendo que a mulher da sua vida, tinha muito jeito para os panos, a contratou quase em exclusividade, para fazer muitos vestidos e pela primeira vez puderam muito felizes, saborear com o seu dinheiro um café e um pastel.

Mas, segundo dizem, alguns amigos a maior alegria que tiveram, foi comprar um frango de churrasco, uma garrafa de “Três Marias” e junto a um arbusto, do Passeio da Foz, saborearem, pedaço a pedaço, golo a golo, a maior alegria dos últimos meses.

Dizem, que um dia, obstinado como sempre, partiu, com rumo e destino, mas sem mala nem dinheiro, para o sul, onde o frio, era ainda mais frio, mas as pessoas mais afáveis.

Dizem, que foi tão obstinado e convincente, que conseguiu meter o Rossio no Largo do Xico do Cano….lá para às bandas de Estremoz…..,ela, a amada foi ter com ele.

Dizem, que eles, continuam felizes, com a família maior, muitos amigos, e que até hoje o melhor frango de churrasco e o melhor verde, foi aquele que comeram na Foz do Douro, porque foi comprado com muito suor e comido com amor…….